Thursday, November 03, 2005

Religião e conservadorismo


Religião e conservadorismo
sempre na agenda

George W. Bush jamais escondeu que, até completar 40 anos, zanzava pela vida sem destino nem inspiração profissional. Eleito e reeleito governador e depois presidente, ele atribui todo o sucesso de sua trajetória política a duas influências - a de sua mulher (que o motivou a largar a bebida), e a da religião, que alimentou sua reabilitação e transformou suas prioridades.

Freqüentador assíduo da Igreja Metodista, Bush cresceu políticamente ao valorizar o papel da religião em sua vida - entre os eleitores do centro e do sul do país, por exemplo, um candidato sem forte convicção religiosa tem chances mínimas de sucesso. Para os críticos de Bush, o problema é que o presidente usou a religião não só para ganhar votos como também para governar.

Sob pressão - Eleito com uma plataforma autoclassificada de "conservadorismo compassivo", Bush adotou uma agenda polêmica nas áreas mais delicadas da política interna. Sempre inspirado pelas crenças religiosas - e, é claro, pressionado pelo eleitorado que o escolheu por causa disso -, o presidente americano lançou ações políticas contra o direito ao aborto e o casamento gay.

No campo do aborto, Bush expandiu as restrições à prática e pavimentou o caminho para, no segundo mandato, ensaiar a mudança da lei. Segundo fontes ligadas aos republicanos, Bush sonhava em reverter a mais famosa decisão da Suprema Corte dos EUA, no caso Roe contra Wade, que abriu o precedente para o aborto liberado. Oficialmente, o governo não comenta essa possibilidade.

Pai superior - Além de enfurecer a oposição democrata e grupos de mulheres favoráveis ao aborto, Bush provoca reação parecida nos homossexuais americanos. Isso porque o presidente deseja mudar o texto da Constituição para incluir uma declaração de que o casamento só pode ser reconhecido quando une um homem e uma mulher - outra crença que Bush justifica através da religião.

Mais perigoso ainda é o uso da crença pessoal do presidente na tomada de decisões de grande impacto para o planeta. Provocou espanto e indignação na comunidade internacional uma afirmação de Bush indicando que a religião pesou na sua decisão de ir à guerra no Iraque. Respondendo se ouvia os conselhos do pai, ex-presidente, ele disse que não, mas que ouvia "o pai superior".

Messianismo - Uma reportagem publicada pela revista dominical do jornal The New York Times confirmou, através de entrevistas com pessoas ligadas a Bush, que o presidente usa a religião na hora de tomar decisões. Bush, dizem alguns, acredita, de forma sincera, que representa o desejo de Deus ao governar. Pior: parte de seus eleitores alimentaria o mesmo tipo de messianismo.