Thursday, April 06, 2006

Opus Dei X Igreja Católica

Opus Dei X Igreja Católica

Gabriel Perissé


Em breve assistiremos ao filme baseado no livro O Código Da Vinci, de Dan Brown.
O Opus Dei, entidade que aparece como vilã na trama do best-seller, tem procurado
desmoralizar filme e livro, alegando que se trata de mero ataque à Igreja católica.
Bela meia-verdade.

Meia-verdade, porque ao Opus Dei pouco importam os ataques diretos ou indiretos
feitos à Igreja. O Opus Dei está preocupado com sua própria imagem e "reputação",
isto sim. Se de fato estivesse atento ao que ocorre na literatura chamada
"anticristã", teria lançado campanhas semelhantes quando foram publicadas obras como
O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, ou O Evangelho segundo o Filho,
de Norman Mailer, ou The Christ Clone Trilogy, de James BeauSeigneur, ou o bizarro Os
astronautas de Yahev, de J.J. Benítez, em que se relata a intervenção de
extraterrestres em várias passagens do Antigo e do Novo Testamento, como a travessia
do Mar Vermelho e a concepção virginal de Jesus.

O que incomoda mesmo o Opus Dei é a possibilidade de que a Igreja perceba, em meio
aos aspectos ficcionais e até caricaturescos da história, aquilo que uma passagem do
livro, no capítulo 100, deixa entrever de realmente preocupante e verossímil: o
prelado da Obra conta os motivos pelos quais o novo papa decidira separar o Opus Dei
da Igreja.

As práticas de proselitismo agressivo com menores de idade, o modo como as mulheres
são tratadas na instituição e a insistência na mortificação corporal obrigatória
(cilício e disciplina) constituem algumas razões sérias para que a Igreja repense seu
apoio ao Opus Dei. Os livros de Saramago ou de Benítez vão e vêm. O que continua, e
continua dentro da estrutura eclesiástica, é uma organização cujo perfil arrogante,
mentiroso e passadista escandaliza os próprios fiéis católicos.

No Opus Dei, exerce-se controle contínuo e obsessivo sobre a consciência de seus
membros, pratica-se a coação psicológica contra quem deseja desligar-se da prelazia,
e as "crises de vocação" decorrentes desta coação passam a ser encaradas como
distúrbios psiquiátricos. Tudo isso a Igreja católica repudia, em teoria. Agora,
precisa descobrir que, na prática, queira ou não, está aprovando essa conduta.

Diante da cúpula da Igreja (leia-se papa e bispos), o Opus Dei se apresenta como
instituição certinha pra chuchu. Para além da fachada, porém, lá nos fundos, a
realidade é bem outra.

Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e professor do mestrado em educação da
Uninove-SP. Web Site: www.perisse.com.br

0 Comments:

Post a Comment

<< Home