Monday, January 30, 2006

Jesus eu não sei, mas Macedo, existe sim!

     Do Blog do Filósofo (a foto está no Blog)  http://ghiraldelli.blogspot.com
Segunda-feira, Janeiro 30, 2006 Jesus eu não sei, mas Macedo, existe sim!

Pode parecer curioso e até tolo o que ocorre na Itália, sobre a acusação de Luigi Cascioli contra o padre Enrico Righi, de que este explora a boa índole popular com a crença da existência de Jesus. De fato, a lei vigente na Itália permite que o caso do padre seja julgado como "abuso de crença popular" e "personificação". Por esta última acusação, Cascioli diz que o padre tira vantagens de tal crença, inclusive financeiras. O juiz de Viterbo, a cidade onde a situação está posta, está para proferir a sentença, uma vez que já ouviu as duas partes.

A questão não é, é claro, para nós filósofos laicos do século XXI, a de se Jesus existiu ou não. Menos ainda a de se é ou não santo no nível que os cristãos o consideram. A questão é que Cascioli está fazendo algo contra o abuso da boa fé popular e contra a Igreja Católica, não contra um curandeiro qualquer. Independentemente do resultado, o tema poderia ser trazido para o Brasil sem que se tratasse de uma questão pitoresca ou curiosidade de Almanaque farmacêutico. Pois também no Brasil temos leis que proibem, de vários lados, a exploração da boa fé popular. Mas temos estado completamente alheios a isso.

Não vamos chegar ao caso italiano. Nem queremos reverter o quadro sobre quem acredita no criacionismo e quem acredita na evolução. Aliás, na Inglaterra, onde não há analfabetismo e onde o Iluminismo aconteceu de fato e não apenas "de verniz", como em Portugal e Brasil, somente 40% da população leva a sério a teoria da evolução. Então, não é esse o caso. O problema é sabermos quando é que alguém pode se tornar, a partir de qualquer conversa, dono de um império a ponto de influenciar decisivamente o próprio governo do país. Pois aí, no caso, ferimos os princípios republicanos. Com a República, separamos Igreja e Estado. Não temos que unir o Estado a qualquer outro tipo de Igreja, já que não quisemos mais a Católica junto a nós, do ponto de vista institucional-governamental. Poderíamos retroceder, mas não fizemos isso quando tivemos o plebiscito sobre a Monarquia. Optamos novamente pela República. Optamos novamente pelo Estado Laico.

Sim, sim, estou falando das relações entre os Três Poderes e as seitas e igrejas no Brasil. Relações estas que vão além do que deveriam ir, por lei. Por exemplo: como é que a Igreja Universal conseguiu de maneira tão fácil um canal de TV? Como é que este tipo de igreja, inclusive com o tipo de treinamento que ela dá , pode atuar livremente ? (vejam o blog do Danilo Dornas, filósofo de São João Del Rey, onde ele mostra como é esse treinamento através de clip: Paidéia Digital).

Do mesmo modo que temos leis para evitar o charlatanismo, o curandeirismo, isto é, a intromissão da religião em assuntos médicos que prejudicam o corpo, temos também leis para evitar que os ideários religiosos - de religiões "históricas" ou não - venham a prejudicar as pessoas no andamento de suas vidas - que inclui participação de alma e corpo! E nossas leis que lidam com isso não ferem, de modo algum, os nosso sprincípios constitucionais de liberdade religiosa.

Todavia, não usamos dessas nossas leis. A não ser um caso e outro de transfusão de sangue (em que juízes, em favor de médicos, colocam alguns religiosos de lado) em geral somos muito tolerantes com toda e qualquer venda de crença. Precisaríamos olhar para a nossa legislação, ver o quanto ela permite ou não uma pessoa qualquer abrir uma porta e passar a cobrar por milagres ou "vida eterna" etc. Pois do mesmo modo que consideramos que um adulto pode ser ludibriado pela "propaganda enganosa" da TV, sobre um produto, podemos considerar que esse mesmo adulto está em barco parecido quando deposita suas últimas economias em um chapéu de um Bispo Macedo ou coisa do gênero. Aqui, a expressão da livre vontade do doador deveria ser secundarizada, do mesmo modo que há leis regrando o voto político. Se o político não pode entregar "santinho" dentro do local de votação, pois isso está provado que muda o resultado do pleito de modo irracional, então já temos jurisprudência suficiente para acreditar
que a "vontade livre do doador" estaria sendo protegida se fizéssemos gente como o Bispo Macedo ficar menos afoita.

Ou seja, do ponto de vista legal, temos uma legislação que sabe bem onde é que um indivíduo livre é livre e onde é que este indivíduo livre, ao expressar sua liberdade, está perdendo sua liberdade. Chegamos a várias situações em que ordenamos bem esse tipo de dilema. Falta agora, aplicar essa legislação. Aperfeiçoá-la para o caso da "exploração da boa fé popular", e aplicá-la.

Paulo Ghiraldelli Jr. - www.ghiraldelli.pro.br

Sunday, January 29, 2006

OS SEGREDOS SUPREENDENTES DA BIBLIOTECA DO VATINO

OS SEGREDOS SUPREENDENTES DA BIBLIOTECA DO VATICANO
Vocento VMT –Através de sua página na web se pode
conhecer todos os documentos que estavam ocultos.

O mítico «secretismo» do Vaticano já não é o que era. Ainda que o arquivo milenar de Estado mantém o nome tradicional de Arquivo Secreto, o Papa
León XIII o abriu para os estudiosos 1881, convertendo-o em um dos
centros de investigação histórica mais importantes do mundo.

O Arquivo Secreto Vaticano se desclassifica por Pontificados inteiros, e na atualidade está aberto até a morte de Benedicto XV em 1922. Em um
novo passo, o Arquivo está a disposição de qualquer pessoa interessada nas centenas de facsímiles de documentos em sua página de
Internet, que se acessa a partir do portal de entrada do Vaticano
(
www.vatican.va), pulsandoo ícone correspondente.

Cada documento encerra muitas transformações históricas, desde a petição de
divorcio de Enrique VIII -com uma carta de apoio firmada por todos os lordes
da Inglaterra- até o processo de Galileo. Ou desde o documento de
proteção pontificia da Universidad de Oxford em 1254 até a tardia
absolvição papal a Ordem do Templo em 1308 no intento de que Felipe
o Formoso não executasse o Gran Mestre Jacques de Molay e os demais chefes dos Templários.

O passeio pelos séculos, resulta em descobertas apaixonantes que os Pares da
Inglaterra utilizavam a fórmula de «súplica» só por cortesia. Sua carta a
Clemente VII da por feito que o Papa anularia o matrimonio de Enrique VIII
com Catalina de Aragón posto que haviam entrado em jogo poderosas razões
políticas. A nobreza da Inglaterra se equivocava. Clemente VII não podia
ceder,e a fúria de Enrique VIII provocou cisma que dura até hoje(a Igreja Anglicana).

Outras decisões duradouras são menos trágicas, como a reforma do
calendário realizada pelo Papa Gregorio XIII em 1582 para substituir o
estabelecido por Julio Cesar no ano 46 antes de Cristo.

Alguns documentos são severos, como a ameaça de excomunhão a Martím
Lutero, enviada por Leão X em 15 de junho de 1520. O promotor da Reforma
não ficou atrás, e o Arquivo Secreto conserva, a seu lado, a bula de
excomunhão, emitida pelo Papa em 3 de janeiro de 1521. Outros textos são
comoventes, como a desesperada carta de Miquelangelo a seu amigo e
protetor, o bispo de Cesena quando a Santa Sede, devido a uma mudança de
Papa, chegava a três meses sem pagar as obras de construção da cúpula
de São Pedro e todo o equipamento de arquitetos, engenheiros e ajudantes ameaçava se demitirem .

O mestre dos arquitetos informa a seu protetor de que os ajudantes dizem que «que não podem seguir assim», e que «teriam que abandonar as obras,
l, com o conseqüente dano de milhares de escudos», e é
necessário evitar «que se produza tal escândalo». Por sorte, Miquelangelo
conseguiu seu objetivo, ainda que nunca chegaria a ver a cúpula terminada.
A quatro séculos é possível admirá-la o mundo inteiro.

Os documentos oficiais da Santa Sede desde 1198 ocupam 85 quilômetros de
estantes. Na Internet o espaço se comprime.
Tradução: Atilio Coelho

Monday, January 16, 2006

Padre Pinto é o Maior (Fonte: www.saindodamatrix.com.br)


PADRE PINTO É O MAIOR!
ter, 10 de janeiro, 2006


O assunto do momento é o Padre Pinto, de Salvador. Ele encontrou uma forma diferente de celebrar as missas: bailarino de formação clássica, vestido de roupas espalhafatosas e olhos pintados (praticamente um Clóvis Bornay desfilando pela igreja), presta homenagem a Oxum e aos caboclos fazendo performances que são até comuns nos terreiros de Umbanda, mas que causam estranheza dentro da Igreja (até mesmo pra uma velha senhora negra de Salvador, que já deve ter visto de tudo na vida, e que, "pela antiguidade" dela, desaprovou).

Veja aqui a matéria do Jornal da Globo com o vídeo

Eu queria achar o vídeo com uma resolução melhor... esse não faz juz ao glamour das roupas do Padre Pinto, e não dá pra ver ele com os olhos esbugalhados enquanto dança como índio... eu simplesmente adorei! A igreja não sabe se bota o Pinto pra fora ou deixa o Pinto dentro... da paróquia. Só sei que no momento ele foi afastado "para tratamento médico", segundo a Arquidiocese. O fato é que o Pinto é tudo o que o Ratzinguer não quer na Igreja Católica. Durante a festa de Reis ele chorou e pediu que não o tirassem da paróquia, onde está há 20 anos. Foi afastado no mesmo dia.

Uma pena... eu gostaria de ter visto isso pessoalmente, principalmente por causa da coreografia do indiozinho lá no púlpito, que me lembrou o videoclipe Thriller, de Michael Jackson. Fizeram essa celeuma toda só por causa das danças, do visual... Mas, será que por baixo de toda a maquiagem e roupas, alguém notou que havia ali um apóstolo de Cristo, um Sacerdote, enfim, um Padre? Será que alguém se interessou pelo que ele tem a dizer? E ele deu seu recado, perfeitamente cristão, naquela mesma missa: "Basta lembrar que os três reis magos que presentearam Jesus menino representavam povos diferentes, donde se conclui que negros, brancos, amarelos e índios são iguais diante de Cristo. As classificações são invenções humanas que só servem para justificar exclusões" - assunto muito em voga hoje em dia, com a "discriminação positiva", incentivada pelo governo para preenchimento das vagas de ensino e trabalho - e ressaltou que cada cidadão está devendo três presentes ao coletivo: a justiça, o amor e a paz. E fez discreta, mas ácida crítica aos eventos espetaculares de promoção da paz, como o abraço no Dique do Tororó e os três minutos de silêncio previstos para o Rock in Rio pela vida. "São bonitos, mas costumam tratar a paz como se ela fosse surgir num passe de mágica. Ela, no entanto, jamais virá se não formos justos e amarmos uns aos outros".

Faço minha as palavras de Rosana Hermann: "De qualquer forma, é sempre melhor ver um padre nos noticiários pelas suas inovações estéticas do que por atividades pedófilas". O único crime deste homem foi ter "estilo" numa organização que preza pelo impessoalismo. Mas eu respeito e entendo perfeitamente a posição da Igreja Católica, afinal ela possui ritos e tradições seculares que não podem de uma hora para a outra serem trocadas por ritos de outras religiões. O papa, por exemplo, possui um código de conduta compatível com seu cargo, e não pode, de uma hora pra outra, dar a doida e sair por aí com um gorro de Papai Noel na cabeça, ou acordar de mau-humor e ir rezar a missa com uma medalha nazista no peito...

A vida íntima do Opus Dei

A vida íntima do Opus Dei

Travam uma guerra contra a poderosa prelazia do papa e revelam segredos até
então bem guardados pela poderosa Opus Dei (Obra de Deus), fundada pelo
espanhol Josemaria Escrivá, em 1928

Quando era do Opus Dei, Antonio Carlos Brolezzi foi obrigado a usar um
macacão antimasturbação. O equipamento se destinava a combater a ‘doença’
que seu confessor diagnosticou como ‘erotismo mental’. Tratava-se de uma
calça jeans e uma camisa de flanela costuradas uma na outra e vestidas de
trás para a frente com o objetivo de impedir o jovem de 20 anos de alcançar
a parte mais íntima de sua anatomia. Brolezzi, hoje um bem casado professor
do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, tem
se dedicado a narrar em tom confessional as lembranças sexuais de uma década
dentro da poderosa prelazia do papa. Pela primeira vez no Brasil,
dissidentes retiram o manto de silêncio que envolve a ‘Obra de Deus’ (em
latim, Opus Dei)e dedicam-se hoje a exibi-la em praça pública - alguns deles
com uma sanha digna daquelas ex-mulheres que, na recente crônica política do
país, enlamearam a imagem de figurões da República. Nada podia ser pior para
uma instituição que usa a discrição como estratégia. A vida íntima do Opus
Dei está sendo devassada. Dividido em duas partes - ‘Memórias sexuais de um
Numerário’ e ‘Manual do Ex-Numerário Virgem’ -, o livro de Brolezzi deverá
ser o próximo míssil editorial lançado contra a ultraconservadora
organização católica.
Os ‘numerários’ a que se refere o livro são a espinha dorsal da Obra: os
leigos celibatários que vivem nos centros da instituição e cumprem um ritual
diário de rezas e mortificações. Já os supernumerários podem casar, ter
filhos e patrimônio próprio. Na Espanha, onde o movimento foi fundado em
1928, já existe uma espinhosa bibliografia com relatos de ex-membros. No
Brasil, porém, onde o Opus Dei só aportou no fim dos anos 50, a organização
havia conseguido manter seus adeptos e suas práticas em segredo, obediente
ao figurino pregado pelo fundador, Josemaría Escrivá de Balaguer
(1902-1975). Em Caminho, o guia do Opus Dei, Escrivá enfatiza: ‘O desprezo e
a perseguição são benditas provas de predileção divina, mas não há prova e
sinal de predileção mais belo do que este: passar oculto’. Agora esse ideal
tornou-se inalcançável também no maior país católico do mundo.

Enredo de O Código Da Vinci pôs Obra sob incômodos holofotes

A declaração de guerra, no fim de outubro, foi o lançamento do livro Opus
Dei - Os Bastidores (Verus Editora), escrito por três dissidentes da Obra.
Um deles, Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da USP, havia
vivido 35 anos como numerário. Lauand era uma das figuras mais populares da
ordem até abandoná-la, há dois anos. Conhece como poucos sua atuação no
Brasil. Ao deixá-la, tornou-se uma pedra no meio do caminho da obra de
Escrivá.
O segundo ataque foi lançado pela mãe de um numerário, Elizabeth
Silberstein. Usando o apelo de uma mãe em luta para resgatar o filho das
‘garras da seita’, ela escreveu e lançou em dezembro o livro Opus Dei - A
Falsa Obra de Deus - Alerta às Famílias Católicas. A publicação, bancada por
ela, copia a estrutura de um manual para pais que tiveram seus filhos
seqüestrados pelas drogas. Ao Opus Dei é reservado o papel de traficante. O
quinto capítulo, por exemplo, é intitulado ‘Alerta: meu filho foi captado
por eles! O que posso fazer?’.
As denúncias poderiam ser apenas uma daquelas constrangedoras brigas de
família se o Opus Dei não fosse a única prelazia pessoal do papa - e a
Igreja Católica a mais poderosa instituição religiosa do Ocidente. Desde o
lançamento em 2003 do best-seller de Dan Brown O Código Da Vinci (mais de 40
milhões de exemplares vendidos), a Obra vive sob incômodos holofotes. No
enredo, a organização é capaz de cometer assassinatos para impedir a
revelação de verdades indesejáveis sobre Jesus. O fato de ser uma história
de ficção não impediu arranhões profundos na imagem do Opus Dei. Para
piorar, o filme baseado no livro estreará em maio, com Tom Hanks no papel
principal e vocação de blockbuster. O momento, portanto, é propício para os
membros da prelazia evocarem o ensinamento do fundador: ‘Não pretendas que
te compreendam. Essa incompreensão é providencial: para que o teu sacrifício
passe despercebido’.

Reação dissidente começou via internet

No Brasil, a reação dos dissidentes organizou-se a partir da criação de um
site na internet, o www.opuslivre.org - quartel-general virtual em que
ex-adeptos trocam confidências e dicas de ‘sobrevivência’. Antonio Carlos
Brolezzi conta que quando recebeu o primeiro e-mail do site teve uma
tremedeira. ‘Tive pesadelos e disse que não queria mais receber aquele tipo
de correspondência’, conta. ‘Responderam-me que tudo bem, mas que havia
chegado a hora de botar a boca no trombone e exorcizar os fantasmas. Antes,
quem saía da Obra ficava isolado. Com a internet as pessoas passaram a
conversar. Parei de tremer e decidi escrever o livro.’
Numerários influentes, como o jornalista Carlos Alberto Di Franco, enfrentam
o fenômeno com o estoicismo pregado por Escrivá. ‘A campanha difamatória é
dolorosa, mas ao mesmo tempo será boa para a Obra no Brasil porque é o sinal
da cruz de Cristo’, afirma Di Franco. ‘A contradição, a calúnia e a
difamação sempre tiveram um papel na história da Igreja. Não há cristianismo
sem cruz.’
Dom Geraldo Majella Agnelo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, disse a ÉPOCA que, se algum membro da prelazia procurar a CNBB com
denúncias de violação de direitos humanos, ele encaminhará o assunto à Santa
Sé. ‘Como instituição, o Opus Dei foi aprovado. Mas, se há erros, aí é
diferente. Eles devem ser apontados e comprovados para ser julgados por
autoridades competentes.’ O escritório de informação do Opus Dei no Brasil,
em resposta por escrito, afirma que a Obra já havia passado pela experiência
de ser criticada por ex-membros em outros países.

João Paulo II deu status de “prelazia pessoal”

Erra quem vê o Opus Dei como um entre tantos movimentos católicos
conservadores, como Arautos do Evangelho, TFP e Focolare. Desde que João
Paulo II a ungiu com o status de prelazia pessoal, em 1982, a Obra tornou-se
oficialmente corpo e sangue da Igreja. Prevista pelo Concílio Vaticano II
(1962-1965) e incorporada pelo Código de Direito Canônico, essa nova figura
jurídica garantiu ao Opus Dei um duplo privilégio. Por um lado, espalha-se
pelo mundo sob o escudo da tradição milenar da Igreja de Roma. Por outro, é
independente dos bispos e dioceses. A Obra só obedece ao prelado, cargo
vitalício hoje ocupado por dom Javier Echevarría. E ele só presta contas ao
papa.
Dentro do Vaticano, o Opus Dei incomoda os cardeais mais progressistas, que
assistiram alarmados às demonstrações de entusiasmo de João Paulo II. A
canonização do fundador da Obra aconteceu em tempo recorde para os padrões
da Igreja, apenas 27 anos após sua morte. Bem diferente, por exemplo, do
caso de José de Anchieta, cuja patente de santo é uma causa antiga dos
brasileiros: o jesuíta morreu em 1597, mas só se tornou beato em 1980 e não
há estimativa de quando possa virar santo. Antes da canonização, Escrivá era
uma figura controversa. Jesuítas espanhóis o acusavam de criar uma
‘maçonaria dentro da igreja’ e até de promover ‘uma nova heresia’.
Bento XVI é mais sóbrio na exposição de seus afetos que seu antecessor, mas
a obediência dos membros do Opus faz da instituição um aliado valioso em um
mundo onde a maioria dos fiéis prefere escolher as próprias opiniões.
‘Obedecei, como nas mãos do artista obedece um instrumento - que não se
detém a considerar por que faz isto ou aquilo - certo de que nunca vos
mandarão coisa que não seja boa e para toda a Glória de Deus’, aconselha
Escrivá.

Patrimônio da seita estimado em US$ 2,8 bi

Em Opus Dei - Um Olhar Objetivo para Além dos Mitos e da Realidade da Mais
Controversa Força da Igreja Católica, o jornalista especializado em Vaticano
John Allen Jr. compara a Obra a uma Guiness Extra Stout. Como a tradicional
cerveja irlandesa, em um mercado repleto de produtos diet, light e até sem
álcool, o Opus Dei é um reduto de tradição em meio a um catolicismo que,
desde o Concílio Vaticano II, tomou vários atalhos em sua vivência
cotidiana. Quem pertence ao Opus Dei não tem dúvidas nem relativismos numa
sociedade povoada por ambos: pensa com a Igreja e vive como o papa manda. ‘A
Igreja Católica não é uma democracia’, diz a numerária Maria Lúcia Alckmin.
Para membros da Obra, parte significativa dos católicos não passa de
‘católicos de censo’ - que servem para expandir as estatísticas, mas seguem
apenas as crenças pessoais. Com apenas 85 mil seguidores - 1.700 no
Brasil -, o Opus Dei é irrelevante do ponto de vista quantitativo. Mas seus
admiradores são estimados na casa dos milhões. Em 1950, num lance ousado,
Escrivá conseguiu inédita autorização do Vaticano para aceitar cooperadores
(leia-se financiadores) não-católicos e não-cristãos. Assim, a Obra tem
apoiadores espalhados pelo mundo das mais variadas doutrinas - inclusive
aqueles que nem sequer acreditam na existência de Deus. Além de aumentar o
poder de penetração do movimento nas diversas instâncias da sociedade, os
cooperadores representam uma boa fonte de recursos. O vaticanista Allen
estima o patrimônio da organização em US$ 2,8 bilhões.

Ligações poderosas

Carlos Alberto Di Franco dá formação cristã ao governador Geraldo Alckmin e
treinou mais de 200 editores da imprensa
Carlos Alberto Di Franco, 60 anos, é um dos numerários mais influentes e bem
relacionados do Opus Dei. Representante no Brasil da Escola de Comunicação
da Universidade de Navarra e diretor do Master em Jornalismo, um programa de
capacitação de editores que já formou mais de 200 cargos de chefias dos
principais jornais do País, é citado no livro Opus Dei - Os Bastidores como
o executor da política da Obra para a mídia do Brasil e na América Latina.
Nos últimos anos, tem feito periodicamente uma preleção sobre valores
cristãos na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes a convite do
governador Geraldo Alckmin (confira matéria na página xx). O encontro,
apelidado de ‘Palestra do Morumbi’, reúne um seleto grupo de empresários e
profissionais do Direito, entre eles o vice-presidente da Fiesp, João
Guilherme Ometo. Na sede do Master, em São Paulo, em cujos andares
superiores funciona o centro da Obra onde vive, Di Franco deu a seguinte
entrevista a Época.

ÉPOCA - A partir do final dos anos 80 a Universidade de Navarra, que é do
Opus Dei, passou a dar cursos nas redações brasileiras. Como surgiu essa
estratégia?
Carlos Alberto Di Franco - Vários professores de lá participaram de um
seminário no Rio e chamaram atenção pela sua visão de Jornalismo. Esse foi o
início de um trabalho não de universidade, mas de consultoria de alguns
profissionais que também são professores em Navarra.

ÉPOCA - O Master em Jornalismo é uma estratégia do Opus Dei para influenciar
a imprensa brasileira e da América latina?
Di Franco - Absolutamente nada a ver. É um trabalho profissional meu. A
única coincidência é que Carlos Alberto Di Franco é do Opus Dei. A imprensa
tem suficiente discernimento e filtros próprios para se deixar submeter a
qualquer coisa deste tipo.

ÉPOCA - O senhor é numerário do Opus Dei, é representante da Escola de
Comunicação da Universidade de Navarra, que é do Opus Dei, o Master traz
professores de Navarra que também são numerários, mas o senhor afirma que
não há nenhuma estratégia do Opus Dei em influenciar a imprensa através de
um curso de formação de editores?
Di Franco - Muitos professores de Navarra que vêm não são do Opus Dei. O
Master é um programa técnico de capacitação de editores e não de Religião. O
Master tem uma identidade cristã? Claro. Quando eu abro o Master, a primeira
coisa que eu faço é dizer que o centro conta com serviço de capelania
entregue à prelazia do Opus Dei. Isso implica numa série de serviços de
atendimento espiritual para quem queira recebê-los.

ÉPOCA - O senhor publicou um artigo no jornal O Estado de S.Paulo criticando
o Código da Vinci, um livro de ficção que mostra o Opus Dei como uma seita
capaz de assassinar para alcançar seus objetivos. O senhor assina como
jornalista e professor de ética. O senhor não acha que deveria ter informado
ao leitor que é um numerário?
Di Franco - Não, porque não acrescenta nada. Na mídia todo mundo sabe.

ÉPOCA - O senhor acredita que todos os leitores do jornal sabem?
Di Franco - Todos os leitores não, mas eu não sei o que ser membro do Opus
Dei acrescenta ao meu currículo. O que eu fiz foi uma análise do Dan Brown
mostrando a sua desonestidade intelectual que qualquer jornalista poderia
fazer, budista ou ateu.

ÉPOCA - Poderia. Mas o senhor não acha que a informação de que quem
criticava um livro contra o Opus Dei era alguém do Opus Dei teria sido
relevante para o leitor?
Di Franco - Eu fiz uma crítica técnica e não movida por razões religiosas.

ÉPOCA - Como começaram as ‘palestras do Morumbi’, que acontecem na última
quarta-feira do mês, no Palácio, com o governador Geraldo Alckmin e um grupo
de empresários e profissionais do Direito?
Di Franco - Não é uma reunião regular, depende das agendas. O governador é
cristão, muito católico. Nesta reunião tratamos temas relacionados a
práticas ou virtudes cristãs.

ÉPOCA - De quem partiu essa idéia?
Di Franco - Nasceu de uma conversa do governador com um sacerdote da Obra
com quem ele tem direção espiritual periódica.

ÉPOCA - O Padre (José) Teixeira, confessor do governador?
Di Franco - Isso, o Padre Teixeira. Aí eu e o governador conversamos sobre a
melhor maneira de fazer e sobre quem participaria. O grupo é formado por
amigos comuns, todos católicos. Eu sou o palestrante. Uma coisa rápida,
meia-hora, um cafezinho. A última foi em agosto ou setembro. Depois teríamos
outra, mas eu não pude. Agora ele entrou em campanha. Acredito que no final
de janeiro combinaremos a próxima.

ÉPOCA - Essas palestras são pagas?
Di Franco - Não é um trabalho profissional, é uma atividade de formação
cristã.

ÉPOCA - O senhor não acha que a proibição de ir ao cinema, teatro ou estádio
de futebol conflitua com seu trabalho de jornalista?
Di Franco - Para mim nunca foi problema. Não é que não pode, a expressão
está mal colocada. Não vai ao cinema porque não quer ir ao cinema. Os
numerários vivem, voluntariamente, uma série de abstenções em função de sua
entrega como numerários.

ÉPOCA - Como o senhor faz com o cilício?
Di Franco - O cilício é uma mortificação corporal ultratradicional na
Igreja. Se você falar com qualquer pessoa que viva o cristianismo é a coisa
mais corriqueira e comum.

ÉPOCA - O senhor usa, duas horas por dia?
Di Franco - Sim, como qualquer numerário.

ÉPOCA - Quando o senhor está com o cilício se concentra no sofrimento de
Cristo?
Di Franco - Essa pequena mortificação você oferece por várias intenções. A
partir de hoje vou oferecer para você.

ÉPOCA - Não é necessário.
Di Franco - Como colega. O incômodo se oferece.

ÉPOCA - É muito difícil o celibato?
Di Franco - Qualquer pessoa tem desejo, é normal. Eu sinto atração pelas
mulheres, claro que sinto, sobretudo pelas bonitas.

ÉPOCA - O senhor é virgem?
Di Franco - Você está entrando em território perigoso. Mas sou, se quer
saber sou.

Eliane Brum e Débora Rubin - Revista ÉPOCA

cilício
[Do gr. kilíkion, pelo lat. ciliciu.]
Substantivo masculino
1.Pequena túnica ou cinto ou cordão, de crina, de lã áspera, às vezes com
farpas de madeira, que, por penitência, se trazia vestido diretamente sobre
a pele.
2.Sacrifício voluntário.
3.Martírio a que alguém se submete com resignação.
4.Fig. Tortura, tormento, aflição. [Cf. cilicio, do v. ciliciar e silício.]